O Desafio de lidar com as adversidades
Por Manoel Marciape
Dizer que acredita em Jesus não faz de ninguém um cristão.
Não adianta ir à igreja todo santo dia e viver de aparências…é enganar-se a si mesmo, pois a Deus ninguém engana. E no final da caminhada estará um abismo sem volta.
Primeiro uma curiosidade. Leia esta oração:
“Dai-me, Senhor meu Deus, o que Vos resta;
Aquilo que ninguém Vos pede.
Não Vos peço o repouso nem a tranquilidade,
Nem da alma nem do corpo.
Não Vos peço a riqueza nem o êxito nem a saúde;
Tantos Vos pedem isso, meu Deus,
Que já não Vos deve sobrar para dar.
Dai-me, Senhor, o que Vos resta,
Dai-me aquilo que todos recusam.
Quero a insegurança e a inquietação,
Quero a luta e a tormenta.
Dai-me isso, meu Deus, definitivamente;
Dai-me a certeza de que essa será a minha parte para sempre,
Porque nem sempre terei a coragem de Vo-la pedir.
Dai-me, Senhor, o que Vos resta,
Dai-me aquilo que os outros não querem;
Mas dai-me, também, a coragem
E a força e a fé.”
A oração que você acabou de ler foi encontrada no corpo do Aspirante paraquedista Zirnheld, das Forças Armadas Francesas Livres, morto em combate em 1942 na Líbia, norte da África, durante a Segunda Guerra Mundial. Ela foi adotada pelo Exército Brasileiro em 1969 como sendo a Oração do Paraquedista Brasileiro (encontrei esta história em https://www.25bipqdt.eb.mil.br/pt/cancoes-para-quedistas/84-oracao-do-para-quedista )
Você teria coragem de fazer esta oração? Se não tem, não se preocupe, porque como veremos adiante, não precisamos pedir a Deus para que a insegurança, a inquietação, a luta e a tormenta aconteçam em nossas vidas. Por isto, o desafio de hoje é como manter a fé em meio às adversidades da vida.
Sem meias palavras, vamos ao que interessa:
1º) A adversidade certamente virá. Precisamos ter consciência de que o mundo que Deus criou não foi projetado para jazer no maligno, e muito menos o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus para conviver com a iniquidade. A maior contaminação deste mundo é o pecado que se encravou na alma humana, e que destruiu a sua comunhão com Deus. Todas as outras formas de contaminação derivam disto.
O desequilíbrio econômico, social, ambiental, psicológico, fisiológico, espiritual e tudo mais que vivenciamos no mundo decorre do imenso vazio deixado por Deus na existência humana, que nada deste mundo consegue preencher. É este desequilíbrio interior projetado para o ambiente e as relações sociais que ocasiona as adversidades, crises e tormentas que assolam o ser humano. Cito exemplos: econômicas-desemprego; sociais-violência; ambientais-poluição; psicológicas-ansiedade; fisiológicas-enfermidades; espirituais-incredulidade. Em nossa caminhada cristã somos constantemente desafiados a permanecer firmes na fé em meio a situações adversas.
Talvez um dos maiores problemas na nossa caminhada seja não atentarmos para o fato de que a adversidade certamente virá, e por isto geralmente somos surpreendidos por ela, ficamos perplexos e damos margem a todo tipo de sentimento e atitude que desagrada ao Senhor: murmurar (reclamar da vida) como os israelitas no deserto, esmorecer como Esaú, desobedecer a Deus como Saul. Some-se a isto a impaciência, o medo, a ira e a incredulidade.
Se reconhecermos a adversidade como algo próprio deste mundo desequilibrado não seremos surpreendidos. Poderemos nos antecipar a ela seguindo os conselhos e atitudes de Jesus, como vigiar, orar, jejuar e ter bom ânimo, por exemplo. Então, quando ela vier, estaremos fortalecidos na fé para suportá-las e superá-las para a glória de Deus.
2º) A adversidade certamente passará. Tão certa quanto a vinda da adversidade é a sua partida. Lembre de quantas situações desagradáveis pelas quais você já passou…sim, passou…a adversidade não é perpétua neste mundo.
Enquanto estamos no meio da tempestade o tempo parece não passar, e parece que nunca sairemos dela, mas de um jeito ou de outro saímos. Cansados, mas saímos. Doloridos, mas saímos. Mas também ficamos mais experientes e prudentes, e procuramos maneiras de evitar que aquela situação difícil se repita. Alguém aí já fez aquele ritual de cortar e queimar os cartões de crédito? Eu já. Desde então, como não me sinto seguro para lidar com eles, não os tenho. E o principal: você pode observar que é o agir de Deus que não te deixa sucumbir às adversidades da vida.
3º) A adversidade é necessária. Essa doeu, não? Mas é verdade. Muito mais do que na prosperidade, na bonança ou na claridade, é na adversidade, na tempestade e em meio a trevas que brilham os verdadeiros filhos de Deus, aqueles que compreenderam que foram chamados para ser a porção visível do Deus invisível…muito mais do que vidas abençoadas, abençoadores de vidas para a glória do Pai. A maneira como passamos pela adversidade dará testemunho da nossa caminhada com Deus. A adversidade coloca em relevo a verdadeira família de Cristo e pode conquistar almas. Eu fui conquistado por gente assim, que me estendeu a mão num momento em que eu acreditava que nem a morte me queria. Por outro lado, se a nossa atitude durante as crises não refletir o caráter de Cristo certamente estaremos caminhando para trás e nos arriscando a fazer com que outros tropecem.
4º) Sem adversidade não há vitória. O enfrentamento e a superação das situações nos tornam vencedores com Cristo. Este enfrentamento não consiste em lutar contra carne ou sangue, mas sim em buscar refúgio, livramento e refrigério em Deus. Somente confiando em Deus poderemos experimentar o que cantavam os filhos de Corá:
“1 Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações.
2 Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares;
3 ainda que as águas tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se estremeçam.”
(Salmo 46.1-3)
5º) Manter o foco em Deus é fundamental. Para passar pelas adversidades penso que, antes de tudo, precisamos ter foco. É como fazem os atiradores de elite quando selecionam um alvo…todo o seu conhecimento conduz a uma concentração que os torna capazes de atingir o alvo, apesar da distância e do ambiente adverso (neve, chuva, ventos, escuridão). Se ele não se disciplinar para focar no alvo apesar das circunstâncias adversas jamais será um atirador de elite. Pois é com este mesmo empenho e disciplina que devemos olhar para Jesus, não importa o que esteja ao nosso redor. Estar com Ele é o nosso alvo.
“12 Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.
13 Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão,
14 prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3.13-14)
Conclusão
Antes de encarar as adversidades que viriam em Seu ministério neste mundo, Jesus foi para o deserto e lá ficou por quarenta dias, sendo tentado pelo inimigo. Sempre que tinha uma oportunidade Ele se retirava para orar, dando exemplo de que é fundamental mantermos firme nossa comunhão com Deus e que nada neste mundo pode interromper nossas orações. O Senhor Jesus também antecipou aos apóstolos tempos de adversidade que os crentes enfrentariam (João 16), mas não sem um motivo especial:
“33 Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”. (João 16.33)
Por todos estes motivos não devemos deixar que as crises, as adversidades e as contradições da vida prejudiquem nosso caminhar com Jesus. Que cada um de nós procure estar sempre se consolando e fortalecendo na Palavra de Deus, na oração e na comunhão uns com os outros, pois Ele é conosco, não nos deixará, nem nos desamparará. A Ele seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Abraço fraterno,
Manoel Marciape